Todas as pessoas que já leram o meu blog (umas 4 ou 5) já sabem que escrevo mais para mim do que para outras pessoas. Ele não é apenas um blog de humor, mas de idéias, de pensamentos e, principalmente, de sonhos.
Neil Gaiman (GAIMAN, 2010) diz que “raramente você consegue trazer um sonho de volta como conto. Mesmo assim, existem coisas que podemos trazer de volta dos sonhos: atmosfera, momentos, pessoas, um tema”.
Alguns de meus sonhos são assim: Puras sensações e momentos. É como se eu os realmente tivesse vivido. Meus sonhos são extremamente reais, a ponto de acordar com a sensação da aspereza de um volante, de um cheiro, um gosto.
“Até os sonhos, que são as coisas mais intangíveis e delicadas, podem se mostrar incrivelmente difíceis de matar” (Neil Gaiman, 2010).
Meus sonhos são assim:
Era fim de tarde, exatamente naquele momento em que não sabemos se acendemos ou não os faróis do carro. O pôr do sol era totalmente visível, e incrível, daquela posição. Eu estava sentado em um banco de madeira, simples, na varanda. A minha frente um gramado com tons azulados, devidos aos últimos raios de sol. A estranha sensação de estar em um lugar a qual não pertencia. Só então me dou conta do pequeno lago no canto esquerdo do gramado. O lago é bastante raso. Acho que não passa de 40cm de profundidade. Nele, carpas coloridas (típicas daqueles restaurantes asiáticos de São Paulo) nadam tranquilamente entre as raízes e troncos das árvores que surgem do fundo desse lago. Nossa! Que árvores! Gigantes, lindas. Folhas imensas, cipós, musgo. Luzes piscam entre as folhas e troncos. Seriam vagalumes?
“Mais provável que sejam pequenas fadas” - penso comigo mesmo. O mais estranho é que faz todo o sentido.
Ouço um farfalhar atrás de mim e me viro assustado. São apenas algumas pessoas, homens e mulheres andando. Vindo da praia em direção à varanda da casa à qual eu estava sentado. O farfalhar vem de suas roupas – “vestes de seda” – totalmente brancas, como mantos, sem mangas aparentes que desciam até seus pés. Meu desconforto aumenta. Estava vestido apenas de jeans e camiseta (e estranhamente descalço).
Uma jovem de pele claríssima e cabelos negros como a escuridão, mal saída da adolescência se aproxima de mim e diz:
- Venha conosco. Você está sendo esperando.
Assim, mais próxima, percebo seus olhos. Olhos que viveram muitas vidas, serenos, porém cansados e resignados. Curioso, acompanho os passos dessas pessoas até uma sala. Não era bem uma sala, parecia mais um auditório pequeno, para algumas apresentações mais íntimas.
Na parede, sob a luz de um projetor, estava escrito “Bem vindos, Anjos”.
Penso, me divertindo, que é irônico anjos usarem tecnologias ‘terrenas’ para seus seminários.
Ao ver os novos ‘anjos’ sentarem em cadeiras forradas com couro sintético marrom, com pranchetas, prontos para anotações foi inevitável não reconhecer:
“Com toda a certeza do mundo. Eu não pertenço a este lugar”.
Referências:
GAIMAN, Neil. Coisas Frágeis 2. Conrad Editora. São Paulo, 2010.